25 de set. de 2007

A ÚNICA LEMBRANÇA QUE PERMANECE

“Você nunca sabe quando está forjando uma lembrança”
Rickie Lee Jones
Tenho muitas lembranças de meu pai e de minha infância com ele em nosso apartamento perto da linha do trem. Por vinte anos, ouvimos o barulho do trem como se passasse ao lado da janela do quarto.
Tarde da noite, papai esperava sozinho na estação pelo trem que o levava à fábrica, onde trabalhava no turno que começava à meia-noite.
Naquela noite especial, esperei com ele no escuro para me despedir. Seu rosto estava crispado. O filho mais novo fora convocado para a guerra. Eu deveria me apresentar às seis da manhã no dia seguinte, enquanto ele estivesse trabalhando na máquina de cortar papel.
Meu pai e eu conversamos sobre a revolta que ele sentia. Não queria que eles levassem seu filho, de apenas dezenove anos, que jamais bebera ou fumara sequer um cigarro, para lutar na Europa. Ele colocou as mãos sobre meus ombros magros: “Tenha cuidado, Srulic, e, se precisar de alguma coisa, me escreva que eu consigo para você.”
De repente, ouviu-se o barulho do trem que se aproximava. Ele me abraçou apertado e suavemente beijou-me o rosto. Com os olhos cheios de lágrimas, murmurou: “Amo você, meu filho.” O trem chegou, as portas se fecharam e ele desapareceu na noite.
Um mês depois, aos quarenta e seis anos, meu pai morreu. Tenho setenta e seis anos agora. Uma vez ouvi o repórter Pete Hamil, de Nova York, dizer que as lembranças são a maior herança de um homem e tenho de concordar. Sobrevivi a quatro invasões na Segunda Guerra. Tenho uma vida cheia de toda espécie de experiências. Mas a única lembrança que permanece é a de uma noite quando meu pai disse: “Amo você, meu filho.”
Ted Kruger

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