25 de set. de 2007

ESTAMOS AQUI PARA APRENDER

“O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos”.
Eleanor Roosevelt
– Dezesseis – eu disse.
Esqueci a pergunta de Matemática que minha professora da segunda série, Joyce Cooper, me fez naquele dia, mas nunca me esquecerei da resposta. Assim que o número saiu da minha boca, a turma inteira começou a rir. Eu me senti como a pessoa mais burra do mundo.
A Sra. Cooper censurou meus colegas com um olhar severo. E disse:
– Estamos todos aqui para aprender.
Num outro dia, a Sra. Cooper nos pediu para escrever uma redação a respeito do que esperávamos fazer de nossas vidas. Escrevi: “Quero ser professora como a Sra. Coopper.”
Ela escreveu na minha redação: “Você daria uma professora excepcional, pois é determinada e tenta com afinco.” Eu iria carregar estas palavras em meu coração durante os vinte e sete anos seguintes.
Depois de me formar no segundo grau em 1976, casei-me com um homem maravilhoso, Ben, um mecânico. Logo, Latonya nasceu.
Precisávamos de cada centavo apenas para sobreviver. Faculdade e magistério estavam fora de questão. Consegui, no entanto, arrumar um emprego em uma escola – como ajudante de servente. Limpava dezessete salas de aula na Escola Primária Larrymore todos os dias, incluindo a da Sra. Cooper. Ela havia sido transferida para Larrymore depois que Smallwood fora fachada.
Eu dizia à Sra. Cooper que queria ensinar e ela me repetia as palavras que escrevera na minha redação anos antes. Mas as contas sempre pareciam estar no meio do caminho.
Até que um dia, em 1986, pensei em meu sonho, em como eu queria ajudar as crianças. Mas, para fazer isso, precisava chegar de manhã como professora – não de tarde, para limpar.
Conversei a respeito disso com Ben e Latonya e ficou decidido: eu me inscreveria na universidade Old Dominion. Durante sete anos assisti às aulas de manhã, antes do trabalho. Quando chegava em casa do trabalho, eu estudava. Nos dias em que não tinha aula, trabalhava como professora- assistentepara a Sra. Cooper.
Às vezes ficava pensando se teria forças para conseguir. Quando recebi minha primeira nota baixa, falei em desistir. Minha irmã mais nova, Helen, recusou-se a ouvir.
– Você quer ser professora – ela disse. – Se parar, nunca alcançará o seu sonho.
Helen sabia bem o que significava não desistir, pois ela lutava contra a diabetes. Quando uma das duas desanimava, ela dizia:
– Você vai conseguir. Nós vamos conseguir.
Em 1987, Helen, com apenas vinte e quatro anos, morreu de falência renal relacionada à diabetes. Estava nas minhas mãos conseguir por nós duas.
No dia 8 de maio de 1993 meu sonho se realizou: a formatura. Receber meu diploma universitário e a licença para ensinar me qualificavam oficialmente para ser professora.
Fiz entrevistas em três escolas. Na Escola Primária Coleman Place, a diretora Jeanne Tomlinson disse:
– Seu rosto me parece familiar.
Ela trabalhava em Larrymore mais de dez anos antes. Eu limpava sua sala e ela se lembrou de mim.
Ainda assim eu não tinha propostas concretas. O telefonema veio quando eu acabara de assinar meu décimo oitavo contrato como ajudante de servente. Havia uma vaga para dar aulas para a quinta série em Coleman Place.
Pouco tempo depois que comecei aconteceu algo que trouxe o passado de volta. Eu escrevi uma sentença cheia de erros gramáticas no quadro-negro e pedi aos alunos que viessem até o quadro e a corrigissem.
Uma garota corrigiu até a metade, ficou confusa e parou. Enquanto as outras riam, as lágrimas escorriam nas bochechas dela. Dei-lhe um abraço e disse-lhe para ir tomar um pouco d’água. Então, lembrando-me da Sra. Cooper, censurei o resto da turma com um olhar firme. E disse:
– Estamos todos aqui para aprender.
Charles Slack

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