15 de set. de 2009

A Teologia da Marcha para Jesus

A edição 2006 da “Marcha para Jesus” aconteceu semana passada. Como caiu no feriadão, nosso blog silenciou sobre o tema porque os articulistas, exaustos de suas atividades, saíram para merecido descanso. Um deles, cujo nome só la no fim é que revelarei, saiu de vez para Recife e deve estar na base da água de coco e rede na beira da praia. Mas, aqui vai, meio atrasado, mas vai.
O presente post não analisa o evento propriamente dito, mas as razões e argumentos apresentados para justificar o evento. Para quem já conhece, é uma versão resumida de um artigo que escrevi em 2005 sobre o assunto.

A IDEOLOGIA POR DETRÁS DA MARCHA

Existe uma justificativa teológica elaborada para a Marcha, que procura abonar o evento à luz da Bíblia. Os pontos abaixo foram retirados do site Marcha para Jesus (www.marchaparajesus.com.br, em 12/01/05) e se constituem na “teologia da Marcha”. Aliás, a maior parte deles se encontra exatamente debaixo do tópico “teologia” no site da Marcha. Segue um resumo dos principais argumentos, entre outros, seguidos de um breve comentário.

1. A ordem de “marchar” aparentemente foi dada mediante revelação do Espírito Santo. Diz o site:

A visão inicial da Marcha para Jesus, como qualquer outra ação em que os cristãos empreendem para Deus, está baseado [sic!] no conhecimento e na obediência. Nós acreditamos que Deus diz para nós marcharmos, e esta obediência precede uma revelação. O Espírito Santo de Deus nos conduz em toda a verdade (João 16:13) e a teologia do ato de marcharmos para Jesus emerge quando nós nos engajamos em ouvir o que o Espírito Santo está dizendo para uma Igreja atuante e batalhadora nesta terra.

Comentário: O parágrafo acima não é claro, mas dá a entender que a visão inicial foi mediante uma revelação de Deus, seguida da obediência de quem a recebeu, em cumprir a visão. O parágrafo acima sugere que a visão da Marcha foi dada pelo Espírito Santo. Quando nos lembramos que a denominação organizadora da Marcha tem um “apóstolo” (uso o termo entre aspas, não por qualquer desrespeito a esse líder, mas porque não creio que existam apóstolos hoje à semelhança dos Doze e de Paulo), imagino que “revelações” (uso o termo entre aspas não por desrespeito às práticas dessa denominação, mas porque não creio que existam novas revelações da parte de Deus hoje) devam ser freqüentes.

2. Segundo o site, a Marcha é uma declaração teológica: a Igreja está em movimento e está viva! É o meio pelo qual os cristãos querem ser conhecidos publicamente como discípulos de Jesus.

Comentário: Se esta é a forma bíblica dos cristãos mostrarem que estão vivos e que são seguidores de Jesus, é no mínimo estranho que não encontremos o menor traço de marchas para Jesus no Novo Testamento, ou para Deus no Antigo.

3. A Marcha é entendida como uma celebração semelhante às do Antigo Testamento, possuindo uma qualidade extremamente espontânea e alegre. Participam da Marcha jovens de caras pintadas, cartazes, roupas coloridas e canções vivazes. Isto é visto como uma celebração do amor extravagante de Deus para o mundo.

Comentário: Na minha avaliação, o ponto acima dificilmente pode ser tomado como um argumento bíblico ou teológico para justificar o evento. As “marchas” de Israel no Antigo Testamento, não tinham como alvo evangelizar os povos – ao contrário, eram marchas de guerra, para conquistá-los ou exterminá-los, conforme o próprio Deus mandou naquela época. Fica difícil imaginar os israelitas organizando uma marcha através de Canaã, com os levitas tocando seus instrumentos e dando shows, para ganhar os cananeus para a fé no Deus de Israel!

4. Marchar para Jesus é visto também como um ato profético que dá consciência espiritual às pessoas. Josué mobilizou as pessoas de Israel para marchar ao redor das paredes de Jericó. Jeosafá marchou no deserto entoando louvores a Deus. Quando os cristãos marcham, estão agindo profeticamente, diz o site.

Comentário: Entendo que se trata de um uso errado das Escrituras. Por exemplo: se vamos tomar o texto de Josué como uma ordem para que os cristãos marchem, por que então somente marchar? Por que não tocar trombetas? E por que só marchar uma vez, e não sete ao redor da cidade inteira? E por que não mandar uma arca com as tábuas da lei na frente? E por que não ficar silencioso as seis primeiras vezes e só gritar na sétima?

5. Marchar para Jesus traz uma sensação natural de estar reivindicando o lugar no qual os participantes caminham. Acredita-se que assim libera-se no mundo espiritual a oportunidade desejada por Deus: “Todo o lugar que pisar a planta do vosso pé, eu a darei ...” (Josué 1.3).

Comentário: Será esta uma interpretação correta das Escrituras? Podemos tomar esta promessa de Deus a Josué e ao povo de Israel como sendo uma ordem para que os cristãos de todas as épocas marquem o terreno de Deus através de marchas? Que evangelizem, conquistem, e ganhem povos e nações para Jesus através de marchar no território deles? Que estratégia é esta, que nunca foi revelada antes aos apóstolos, Pais da Igreja, missionários, reformadores, evangelistas, de todas as épocas e terras, e da qual não encontramos o menor traço na Bíblia?

6. A Marcha destrói as fortalezas erguidas pelo inimigo em certas áreas das cidades e regiões onde ela acontece, declarando com fé que Jesus Cristo é o Senhor do Brasil.

Comentário: Onde está a fundamentação bíblica para tal? Na verdade, este ponto é baseado em conceitos do movimento de batalha espiritual, especialmente o conceito de espíritos territoriais, e em conceitos da confissão positiva, que afirmam que criamos realidades espirituais pelo poder das nossas declarações e palavras.

7. Os defensores da Marcha dizem que ela projeta a presença dos evangélicos na mídia de todo o Brasil.

Comentário: É verdade, só que a projeção nem sempre tem sido positiva. Além de provocar polêmica entre os próprios evangélicos, a mídia secular tem tido por vezes avaliação irônica e negativa.

8. Os defensores da Marcha dizem que pessoas se convertem no evento.

Comentário: Não nos é dito qual é o critério usado para identificar as verdadeiras conversões. Se for levantar a mão ou vir à frente durante os shows e as pregações da Marcha, é um critério bastante questionável. As estatísticas que temos nos dizem que apenas 10% das pessoas que atendem a um apelo em cruzadas de evangelização em massa, como aquelas de Billy Graham, permanecem nas igrejas. Mas, mesmo considerando as conversões reais, ainda não justificaria, pois não raras vezes Deus utiliza meios para converter pessoas, meios estes que não se tornam legítimos somente porque Deus os usou. Por exemplo, o fato de que maridos descrentes se convertem através da esposa crente não quer dizer que Deus aprova o casamento misto e nem que namorar descrentes para convertê-los seja estratégia evangelística adequada.

9. Os defensores dizem ainda que a Marcha promove a unidade entre os cristãos. Em alguns lugares do mundo, a Marcha é concluída com um “pacto” entre as denominações, confissões e indivíduos, exigindo que cada um deles não faça mais discriminação por razões doutrinárias.

Comentário: Sou favorável à unidade entre os verdadeiros cristãos. Mas não a qualquer preço e não qualquer tipo de união. A unidade promovida pela Marcha, sob as condições mencionadas acima, tem o efeito de relegar a doutrina bíblica a uma condição secundária. O resultado é que se deixa de dar atenção à doutrina. Em nome da unidade, abandona-se a exatidão doutrinária. Deixa-se de denunciar os erros doutrinários grosseiros que estão presentes em muitas denominações, erros sobre o ser de Deus, sobre a pessoa de Jesus Cristo, a pessoa e atuação do Espírito, o caminho da salvação pela fé somente, etc. Unidade entre os cristãos é boa e bíblica somente se for em torno da verdade. Jamais devemos sacrificar a verdade em nome de uma pretensa unidade. A unidade que a Marcha mostra ao mundo não corresponde à realidade. Ela acaba escondendo as divisões internas, os rachas doutrinários, as brigas pelo poder e as divisões que existem entre os evangélicos. Se queremos de fato unidade, vamos encarar nossas diferenças de frente e procurar discuti-las e resolve-las em concílios, reuniões, na mesa de discussão – e não marchando.

10. Os defensores da Marcha dizem que ela é uma forma de proclamação do Evangelho ao mundo.

Comentário: A resposta que damos é que a proclamação feita na Marcha vem misturada com apresentações de artistas gospel profissionais, ambiente de folia e danceteria, a ponto de perder-se no meio destas outras coisas. Além do mais, a mensagem proclamada é aquela da denominação organizadora, de linha neo-pentecostal, com a qual naturalmente as igrejas evangélicas históricas não concordariam, pois é influenciada pela teologia da prosperidade e pela batalha espiritual.

É evidente que, analisada de perto, a “teologia da Marcha” não se constitui em teologia propriamente dita. Os argumentos acima não provam que há uma revelação para que se marche, e não justificam a necessidade de os cristãos obedecerem organizando marchas. Não há qualquer justificativa bíblica para que os cristãos façam marchas, nem qualquer sustentação bíblica para a idéia de “dar a Deus a oportunidade” mediante uma marcha, ou ainda de que, marchando e declarando, se conquistam regiões e cidades para Cristo. Se há fundamento bíblico, por que os primeiros cristãos não o fizeram? Por que historicamente a Igreja Cristã nunca fez?

Pelos motivos acima, entendo que os argumentos bíblicos e teológicos apresentados para justificar a Marcha para Jesus não procedem. Nada tenho contra que cristãos organizem uma Marcha para Jesus. Apenas acho que não deveriam procurar justificar bíblica e teologicamente como se fosse um ato de obediência à Palavra de Deus. Neste caso, estão condenando como desobedientes todos os cristãos do passado, que nunca marcharam, e os que, no presente, também não marcham.
Autor: Augustos Nicodemus Lopes
Fonte:
O Tempora, O Mores

5 comentários:

Hermes C. Fernandes disse...

Muito bom seu blog. Parabéns!
Já estou seguindo.

Aproveito para lhe convidar a conhecer nosso blog, se desejar segui-lo, será uma honra.

www.hermesfernandes.blogspot.com

Seus comentários também serão muito bem-vindos.

OLHO VIVO disse...

MARCHA PARA GEZUZ IV
UM TESTE FÁCIL E INFANTIL

Responda marcando com um "X" a resposta certa

___ Marcha Para Jesus

___ Marcha Com Jesus

Se você marcou a segunda opção, você sabe o que quer na sua conduta cristã e quais as atitudes que deve tomar para que você possa ser conduzido neste mundo pelo Espírito Santo. Precisamos “MARCHAR COM JESUS” em todos os momentos de nossa vida e não apenas durante alguns kilômetros por uma avenida qualquer numa barulhenta “MARCHA PARA JESUS”. A nossa subserviência a Deus deve ser de tempo integral, nossas atitudes devem, nas vinte e quatro horas do dia, serem voltadas para agradarmos e adoramos a Deus.

A "MARCHA PARA JESUS" nada mais é do que uma atividade festiva movida e regada a interesses do MUNDO GOSPEL, coisas da moda religiosa moderna que dita o mercado da fé hoje em todo o mundo. Se não for "GOSPEL" tá por fora, é careta, é velho, é crente quadrado ou descontextualizado, os ligados ao GOSPEL pelo contrário, são os sabichões que conhecem tudo sobre os assuntos pertinentes à fé, à religião, ao cristianismo e principalmente a Deus. Os ativistas defensores do “MOVIMENTO GOSPEL” são os grandes mentores de todos estes absurdos que permeiam o cristianismo, eles são capazes, de em nome do “SUCESSO” aceitarem qualquer proposta desde que haja lucratividade para as comunidade e as entidades que defendem e definem como igreja. Este movimento, desde o seu surgimento vem causando danos ao Evangelho por causa de sua relação de intimidade e de promiscuidade com as coisas deste mundo, coisas que em alguns casos são vergonhosas como por exemplo, a “MONTAGEM DE RING DE VALE TUDO” nos terreiros da RENASCER EM CRISTO! Eu pergunto: “Que renascimento é este? O nome já diz que vale qualquer coisa, inclusive matar que é o que se vê nas brigas dos profissionais desta categoria esportiva mostrada nas televisões durante a madrugada. É este MOVIMENTO GOSPEL que está sendo alimentada pelas paixões exacerbadas, pelas paixões carnais e ai, com a fragilidade espiritual que domina o meio religioso, fica fácil para que os hereges e os oportunistas implantem sem serem incomodados os seus planos e seus projetos. Outro exemplo, a cantora Carlo Peres é aceita como evangélica, assim como a cantora Joelma, da Banda Calypso o que é um tremendo despropósito e uma falta de respeito ao cristianismo e ao sacrifício da cruz.

A santidade é recomendada como modelo expresso de vida segundo a Bíblia: “Sede santos, porque Eu sou santo” - I Pedro 1 : 15, diz mais: “Assim que, se alguém está em Cristo, NOVA CRIATURA é, as coisas VELHAS já passaram, eis que TUDO se fez novo” - II Coríntios 5: 17. Há ainda um texto que caiu no esquecimento, por interesses ou por comodidade, mas que é de uma profundidade impressionante: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à LIBERDADE. Portanto, não useis então da mesma liberdade para dar ocasião à carne” - Gálatas 5 : 13, isto quer dizer que não devemos, em hipótese alguma, ceder às pressões e às paixões da carne, que quase sempre são doentias na sua espiritualidade e nos seus objetivos. É esta guerra entre a “CARNE” e o “ESPIRITO” que os pretensos evangélicos “GOSPEL” não sabem ou não querem diferenciar nas suas posições quanto à fé que professam. Como todos sabem, o Movimento Gospel transformou-se no caminho mais curto para a implantação do “ECUMENISMO” diabólico voltado para a confusão e a distorção dos conceitos de cristianismo ensinados nos livros Apostólicos.

Continua...

OLHO VIVO disse...

Continuação...


E o que é a “MARCHA PARA JESUS” senão um movimento ecumênico? Basta fazer um levantamento superficial e veremos que há a participação de vários segmentos que se definem como evangélicos, mas que por trás de suas práticas não existem nenhuma relação com aquilo que ensinou-nos Jesus. Isto sem falar no que declaradamente se definem como evangélicos, mas que passam longe daquilo que é estabelecido nas Escrituras como regra básica no exercício da fé cristã. Nesta direção há os que vivem e se alimentam de “correntes”, “rosas consagradas”, “banhos das sete águas”, “copo com água”, “lenço benzido” e mais um caminhão de amuletos que não tem aparo legal nem moral nas Escrituras Sagradas. E ai, vai todo mundo para a avenida e em nome de Jesus o vale tudo é aceito já que a “MARCHA É PARA JESUS”, e para ele QUALQUER COISA SERVE!!! Ia me esquecendo, tem ainda os “PREGADORES DA PROSPERIDADE” que parecem não conhecer a história de Paulo quando ele diz sem medo de cometer heresia: “Sei estar ABATIDO, e sei também ter ABUNDÂNCIA; em toda a maneira e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter FARTURA, como a PADECER necessidade” - Filipenses 4 : 12. Estes hoje são maioria absoluta, encabeçados pelos líderes que andam adornados de anéis de ouro, carros importados, aviões particulares e mais um caminhão de mordomias, e fazem de tudo para que esta teoria Diabólica seja aceita como “BENÇÃO DE DEUS” para as suas vidas. Para estes o texto do Sermão do Monte não faz o menor sentido quando diz: “Olhai para os lírios do campo... Mas o senhor cuida deles. Mas, buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as outras coisas vos serão acrescentadas” - Mateus 6 : 26 e 33. Este texto causa urticária nos TEOLOGISTAS da prosperidade!!! Voltando a “MARCHA PARA JESUS”, o que vemos são tipos assim que dominam as multidões, que por falta completa de informação e de conhecimento da Palavra de Deus, deixam se levar por filosofias vazias e sem nenhum sinal que possa comprovar as suas origens e a eficácias das mesmas no crescimento espiritual do cidadão. Portanto, saiba diferenciar entre “MARCHA PARA JESUS” e “MARCHA COM JESUS”, e boa sorte na sua vida cristã. A segunda preenche os vazios dão coração e da alma!!!

Carlos Roberto Martins de Souza
crms2casa@hotmail.com

Ricardo Luiz de Moraes disse...

Prezado Carlos,
Parabéns pelas considerações.
Deus o abençoe abundantemente.
Grande abraço.

Ricardo Luiz de Moraes disse...

Hermes e Sheivison,
Grato pelas palavras de incentivo.
Deus os abençoe.
Grande abraço.

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