29 de set. de 2007

A DOUTRINA DE DEUS

INTRODUÇÃO
As Escrituras não tem qualquer preocupação em provar a existência de Deus. Pelo contrária, ela já começa afirmando a sua existência (Gn. 1.1). A existência de Deus é o grande pressuposto da Teologia. A Bíblia foi escrita com a perspectiva de que Deus existe e que ele é vivo e ativo no mundo que criou.[1] Tal pressuposto é a crença - Fé - num Deus pessoal, auto-consciente, auto-existente, que é a origem de todas as coisas e que ultrapassa toda a sua criação, mas que, ao mesmo tempo, é imanente em cada parte da criação.
O CONHECIMENTO A RESPEITO DE DEUS
Segundo alguns filósofos e teólogos Deus não pode ser conhecido porque é Absoluto, e o Absoluto não pode ter relação para com nenhuma outra coisa, sendo, portanto, incognoscível. O conhecimento supõe relação, e o Absoluto não tem relação. Ora, o Absoluto não é aquilo que não tem relação para com nenhuma outra coisa, mas aquilo que não tem relação necessária, ou seja, Deus é auto-existente e auto-suficiente.
Alguns também dizem que Deus não pode ser conhecido porque é o Infinito, logo, o Infinito é o Ilimitado, e o Ilimitado é o incognoscível. O conhecimento do Infinito faria distinção ou separação entre conhecedor e conhecido e, sendo assim, o conhecido não poderia ser infinito. Tal postura chama-se agnosticismo[2].
Na verdade não podemos conhecer a Deus na sua totalidade. O homem não pode conhecer a Deus na sua abrangência. Contudo, dentro daquilo que Ele se deu a conhecer, podemos ter algum conhecimento a seu respeito. Seria impossível qualquer conhecimento dele sem que ele se revele. Se Deus não se revelasse, por causa de sua natureza infinita e majestosa jamais poderíamos ter qualquer conhecimento dele.[3] Todavia, apesar de sua ilimitação, tal conhecimento é real e verdadeiro. Temos duas formas de conhecimento:
CONHECIMENTO INATO OU INGÊNITO
Este conhecimento tem a ver com o conhecimento a priori (o semen religionis e o sensus divinitatis), que não tem nada a ver com a revelação verbal de Deus.[4] Significa que logo que o homem nasce e entra em contato com a revelação de Deus, ele já é inclinado ao senso religioso. O conhecimento de Deus foi instilado por natureza na mente humana. Jaz no coração do homem o senso da divindade. Contudo, desde a Queda, tal conhecimento encontra-se deformado pelo pecado. Por essa razão, esse conhecimento é corrompido pelo pecado e o ser humano não pode apreender Deus corretamente.[5] O Apostolo Paulo em sua epistola aos Romanos diz que, por causa da impiedade e perversão dos homens, há uma supressão do conhecimento verdadeiro de Deus, “que detêm a verdade pela injustiça”. A própria idolatria confirma este fato. Aceitar, portanto, o ateísmo[6] como estilo de vida e fé seria negar toda a realidade da natureza humana.
CONHECIMENTO ADQUIRIDO
Este conhecimento tem a ver com o conhecimento a posteriori, isto é, o conhecimento que vem após a observação da criação e dos eventos redentores demonstrados nas Escrituras. [7] Deriva-se da revelação geral e especial de Deus. É resultado de pesquisa. Ultrapassa o conhecimento inato. O conhecimento inato é inerente à constituição da alma humana, enquanto que o conhecimento adquirido é derivado ou produto da observação, estudo ou reflexão. [8] Só pode ser obtido pelo processo exaustivo da percepção e reflexão, raciocínio e argumentação, depende do esforço humano. Contudo, precisamos ultrapassar o mero conhecimento intelectual e chegar ao conhecimento experimental.
DESCRIÇÃO GERAL DE DEUS
Não podemos dar uma definição de Deus no sentido estreito da palavra. Deus pode ser conhecido, mas o que nos cimento crituras.Temos a pergunta 04 do Breve Catecismo: Quem é Deus? Deus é espírito, infinito, eterno, e imutável em seu ser, sabedoria, poder, santidade, justiça, bondade e verdade. Em outras palavras, Deus é um ser puramente espírito, de infinitas perfeições.
Deus é espírito = Deus na sua essência é espírito (Jo. 4.24); Deus é pessoal = Deus é uma personalidade. A descrição do A.T. apresenta e confirma este fato. É um Deus que vai e vem, com quem os homens podem se comunicar, em quem podem confiar, que entra em suas experiências, que os sustenta em suas provações e dificuldades, e que lhes enche o coração com a alegria de vitória. No N.T. temos o texto de Jo. 14.9; Deus é perfeição = Deus se distingue de todas as suas criaturas pela sua perfeição infinita. Deus é sem limites. Sua natureza é infinitamente distinta da nossa, quantitativa e qualitativamente. Não conseguimos compreender a grandeza de Deus, porque o nosso conceito de grandeza está ligado à mensurabilidade. Deus não é mensurável espacial nem temporalmente.[9] Por isso Ele é exaltado acima de todas as suas criaturas (Ex. 15.11; Sl. 96.4-6; 97.9; 99.2); Deus é uno = Deus não se compõe de partes diferentes. Ele não se divide em partes. Sua essência e propriedade são uma.
OS ATRIBUTOS DE DEUS
Segundo o Dr. Herber Campos, a doutrina de Deus é um assunto fundamental para compreensão de todas as demais doutrinas da fé bíblica. Contudo, o ponto fundamental da doutrina de Deus são os atributos de Deus.[10] Deus não se revela só em Seu nome, mas também em Seus Atributos. Entendemos que atributos são “qualidades”, “propriedades”, “virtudes” ou “perfeições” de uma pessoa particular ou de um ser. Como Deus é um ser, ele possui as qualidades que fazem com que ele seja o que é.[11] Portanto, por Atributos entendemos as qualidades inerentes ao ser de Deus. Berkhof define atributo como sendo “as perfeições atribuídas ao Ser de Divino nas Escrituras, ou as que são visivelmente exercidas por Ele nas obras da criação, Providência e Redenção.[12] Eles revelam o ser de Deus. São qualidade de Deus reveladas na Bíblia. Temos os Atributos Incomunicáveis e os Comunicáveis.
ATRIBUTOS INCOMUNICÁVEIS - São atributos exclusivos de Deus, ou seja, não encontram analogia na criatura. São aqueles que distinguem Deus como Deus, sendo ímpar naquilo que é e faz. Esses atributos são a marca distintiva do Altíssimo que o torna absolutamente inigualável![13]
SUA AUTO-EXISTÊNCIA - Ele existe por necessidade do seu próprio ser. Não depende de qualquer coisa para a sua existência. Deus transcende ao tempo a ao espaço. Deus é independente em seu pensamento (Rm 11:33,34); em sua vontade (Dn 4:35; Rm 9;19; Ef 1:5); em seu poder (Sl 115:3); em seu conselho (Sl 33:11).
SUA IMUTABILIDADE - Deus não pode ser mudado ou mudar-se. Ele é isento de toda e qualquer mudança em seu ser, em suas perfeições, em seus propósitos e em suas promessas. Sua essência não pode crescer nem diminuir (Sl. 102:26-27; Ml 3:6; Tg 1.17).
SUA INFINIDADE - Seria a perfeição de Deus pela qual Ele é isento de toda e qualquer limitação. Quando falamos na infinidade de Deus, estamos nos referindo à impossibilidade de se medir ou quantificar as características do Ser de Deus. Por essa razão, podemos dizer que a sua misericórdia é infinita, que seu poder é infinito, etc. [14]
SUA ONIPRENÇA – O termo onipresença descreve a característica da infinidade de Deus que faz com que ele tenha a sua presença plena em cada parte do espaço. [15] Nada pode conter Deus. Não há para Ele tempo ou espaço. Sl 139:7-10.
SUA ONISCIÊNCIA - Deus sabe e sonda todas as coisas. Deus conhece a si mesmo e tudo que está contido no seu plano. Conhece, presente e futuro. I Rs 8:39; Sl 139:1-16; Is 46: 10; Ez 11:5; At 15:18.
SUA ONIPOTÊNCIA - Só Deus tem todo o poder. Ele é o Todo-poderoso (I Cr 29. 11,12).
OS ATRIBUTOS COMUNICÁVEIS – Enquanto os atributos incomunicáveis enfatizam o Ser Absoluto, os comunicáveis indicam a natureza pessoal de Deus, que se evidencia na sua relação com o ser humano.[16] Os atributos comunicáveis são aquelas qualidades de Deus que possuem alguma analogia com a criatura. Mesmo neles, Deus continua independente.
SUA SABEDORIA - Seria um aspecto particular de sua onisciência. Sabedoria para alcançar seus fins, seus objetivos, sendo que o maior é a glória do seu nome. Tanto a sabedoria como o conhecimento são imperfeitos no homem, mas em Deus eles se caracterizam por sua perfeição e infinitude.[17] Ela se manifesta: caracterizam por sua perfeiç sona com a sua criatura, que a em cada parte do espaço. Na criação – Sl 19:1-7; 104:1-34; Na providência – Sl 33:10,11; Rm 8.28; Na redenção – I Co 2:7; Rm 11:33; Ef 3.10.
SUA BONDADE – Podemos definir a bondade de Deus como a sua disposição favorável para com toda a sua criação.[18] Seria a ação de Deus em fazer o bem aos outros. Seria a graça comum de Deus. Deus é essencialmente bom. A sua bondade não muda, mesmo que os homens mudem de atitude para com ele. (Sl 33:6; 104:21; Mt 5:45; 6:26; At 14:17; Sl 52.1).
SUA SANTIDADE - Significa que Ele é absolutamente distinto de todas as suas criaturas e exaltado acima delas. É a soma de todas as suas qualidades morais. A idéia fundamental de santidade moral de Deus é também de separação, mas neste caso, é separação do mal do pecado (Jó 34.10; Hc 1.13). Deus é livre de qualquer contaminação moral. A santidade de Deus é também observada na maneira em que ele exige santidade dos homens, feitos à sua imagem e semelhança.[19] separaçeste caso, dade moral de Deus ude para com ele.Essa qualidade exige pureza de todos os homens (Ex. 15:11; Is 57:15; Jo 34:10).
SUA RETIDÃO - Santidade e retidão se completam. É a perfeição de Deus pela qual Ele se mantém contra toda violação de sua santidade e evidência a sua santidade. É a coerência com a justiça. Esta é definida por Berkhof como “aquela retidão da natureza divina, em virtude da qual Deus é infinitamente justo em Si mesmo”. [20] SERIA A JUSTIÇA REGENCIAL OU GOVERNATIVA: É aquela que Deus impõe como governante dos bons e maus. Ele é o legislador e põe os homens debaixo de suas leis (Sl. 99:4; Rm 1:32); JUSTIÇA REMUNERATIVA: É a recompensa distribuída aos seres racionais, homens e anjos, em virtude daquilo que eles fazem de bom (Dt 7:9,12; Sl 58:11; Rm 2:7) e JUSTIÇA RETRIBUTIVA: É aquela que se refere à aplicação das penalidades (Rm 1:32; 2:9.12:19).
SUA SOBERANIA - É o governo de Deus sem nenhuma influência alheia á sua natureza. É a capacidade em planejar e dirigir os negócios do mundo e de suas criaturas racionais. Soberania em executar a sua vontade. A vontade de Deus é soberana porque também o seu poder é soberano. [21] Quanto ao pecado entendemos que foi o decreto da permissão. [22]
A soberania de Deus é a causa final de todas as coisas, ou seja, da criação, da preservação, da eleição e reprovação, da regeneração, da santificação (Gn 17:1; 28:3; Ex 6:3; Ap. 1:8; Mt 19:26; Lc 1:37).
SUA VERACIDADE - Deus é verdadeiro em seu ser íntimo, em sua revelação e em sua relação com o seu povo. Berkhof define a veracidade de Deus como sendo “aquela perfeição de seu ser em virtude da qual ele cumpre perfeitamente a idéia da divindade, é perfeitamente digno de nossa confiança em sua revelação e vê as coisas como são na realidade”. [23] A verdade de Deus, registrada nas Escrituras Sagradas, está muito acima da nossa compreensão finita. [24] em sua revelaçte a ideia Ela éla e os seus atributos. p. 211 a base da confiança de seu povo, o fundamento da sua esperança, e a causa do seu regozijo (Nm 23:19; I Co 1.9; II Tm 2:13).
SEU AMOR - É a ação de Deus na busca do homem, sua criação máxima. É o Ágape de Deus. O Apóstolo João descreve Deus como sendo amor. Amor é a essência de Deus “pois Deus é amor” (1 Jo 4.8). Este amor pode ser evidenciado através da:
1) A GRAÇA DE DEUS – É o amor imerecido para com os que têm perdido o direito a ele, e estão por natureza debaixo de um julgamento para condenação. É um favor imerecido. É receber de Deus o que não merecemos! (Ef 1:6,7; 2:7-9; Tt 2:11).
2) A MISERICÓRDIA DE DEUS – Sua eterna compaixão. É o amor direcionado para os que sofrem angústia ou aflição. É a atitude de quem encara o homem como escravo do pecado. É o coração comovido pela miséria alheia. Deveríamos receber o justo juízo, mas Deus nos dá misericórdia!
3) A LONGANIMIDADE DE DEUS – Alma grande. É a tolerância de Deus em suportar os perversos e maus (Rm 2:4; 9:22; I Pe 3:20; II Pe 3:15).
Deus demonstrou seu amor por nós dando seu próprio Filho para morrer em favor dos nossos pecados (Rm 5. 8). O amor de Deus não deve ser somente pregado, considerado, mas deve ser praticado por nós. Se Deus nos amou, esse amor deve provocar resposta. Se não amamos a Deus e aos nossos semelhantes é sinal de que não temos em nós o amor de Deus.
[1] CAMPOS, Heber Carlos de. O Ser de Deus e os seus atributos. São Paulo: Cultura Cristã, 1999. p. 25.
[2] O termo deriva-se de duas palavras gregas, a (“sem”) e gnosis (“conhecimento”). Em sentido estrito, agnosticismo refere-se a um sistema de crenças religiosas (e.g., “Deus existe”) é descartada por supor que não possam ser provadas nem negadas, ou porque tais declarações são vistas como inaplicáveis.tureza infinita e majestosa jamais poderiamos
[3] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 55.
[4] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 56.
[5] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 60.
[6] Sistema de crenças cuja afirmação categórica é a inexistência de Deus. O ateísmo também afirma em geral que a única forma de existência é o universo material, sendo ainda mero produto do acaso ou do destino.
[7] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 61.
[8] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 61.
[9] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 68.
[10] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 158.
[11]CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 158.
[12] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. Trad. Odayr Olivetti. 2ª ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2001. p. 59.
[13] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 165.
[14] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 195.
[15] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 204.
[16] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 211.
[17] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 226.
[18] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 245.
[19] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 310.
[20] BERKHOF, Teologia Sistemática. p. 77.
[21] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 384.
[22] Segundo Berkhof, é um decreto que garante com absoluta certeza a realização do ato pecaminoso futuro, em que Deus determina (a) não impedir a autodeterminação pecaminosa da vontade finita; e (b) regular e controlar o resultado dessa autodeterminação pecaminosa (Sl 78.29; 106.15; At 14.16; 17.30). BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p. 77.
[23] BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. p. 77.
[24] CAMPOS, O Ser de Deus e os seus atributos. p. 240.

4 comentários:

Sara disse...

Que através da sua vida Deus continue operando dessa maneira.. para q vc possa através desse Blog chegar a muitas pessoas...
Muito bom mesmo...
Deus abençoe vc e sua família..

Irenio Silveira Chaves disse...

Valeu, meu caro. Visitei e gostei. continue firme. Precisamos fazer cada vez melhor uso da internet para deixar claro o chamado de jesus para segui-lo. Parabéns.

Ricardo disse...

Grato Sara e Irenio,
Que Deus continue abençoando suas vidas!
Divulguem o blog, ok?
Abração.

Anônimo disse...

vivei como se cada dia, tivésseis de morrer; estudai como se, eternamente, tivésseis de viver

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