10 de nov. de 2009

A Parábola dos Tipos de Solos

Desde os tempos de Jesus as parábolas são um poderoso instrumento para apresentar lições profundas a partir das coisas mais simples da vida colocando-as ao alcance de todos.
O capítulo 13 de Mateus é marcado por sete notáveis parábolas. Sete notáveis ilustrações da verdade espiritual são aqui apresentadas pelo Mestre dos mestres, com base na observação da criação. Jesus usa as figuras mais comuns para ensinar as verdades mais profundas e extraordinárias.
Segundo Warren Wiersbe, a parábola do semeador não começa com “o reino dos céus é semelhante...”, pois descreve como o reino começa: com a pregação da Palavra de Deus, o plantio de uma semente no coração das pessoas.
A semente é a Palavra de Deus; os vários tipos de solo representam os diferentes tipos de coração; e os resultados diversos refletem respostas diferentes à pregação da Palavra de Deus. Jesus explicou esta parábola para que não houvesse qualquer dúvida quanto a seu significado.
Mas por que comparar a Palavra de Deus a semente?
Porque a Palavra é “viva e eficaz” (Hb 4.12). Ao contrário das palavras dos homens, a Palavra de Deus é vida que pode ser concedida àqueles que creem.
A verdade de Deus deve ser arraigar no coração, ser cultivada e estimulada a produzir frutos.
Como já afirmamos, a parábola do semeador descreve quatro tipos de solos, que apontam para quatro tipos de coração ou quatro diferentes reações à Palavra de Deus. Jesus disse que o semeador saiu a semear e ao semear parte da semente caiu à beira do caminho, outra caiu entre as pedras, outra entre os espinheiros e finalmente, a última parte caiu em solo fértil (Mt 13.1-23).
A semente é a Palavra de Deus, pois, como uma semente, a Palavra possui vida e poder (Hb 4.12) e é capaz de produzir frutos espirituais (Gl 5.22, 23). Mas a semente não pode fazer coisa alguma até que seja plantada (Jo 12.24). Quando alguém ouve e entende a Palavra, a semente é plantada no coração. O que acontece depois depende do tipo de solo.
Jesus chamou essa parábola de “parábola do semeador” (Mt 13.18), mas também poderia ser chamada de “parábola dos tipos de solos”. A semente sem solo não dá frutos, e o solo sem semente é praticamente inútil. O coração humano é como o solo: se é devidamente preparado, pode receber a Palavra de Deus e produzir colheita abundante.
Jesus nos descreve quatro tipos de coração, sendo que três deles não produziram fruto. Nos três tipos de solo nos quais a semente ficou improdutiva, ela enfrentou resistência: Os homens, as aves, as pedras e os espinhos resistiram à semente. Mas, no solo fértil ela frutificou de forma surpreendente, produzindo a trinta, sessenta e a cento por um. Como podemos classificar esses solos?
1. O coração insensível a Palavra de Deus –
Esse solo representa a pessoa que ouve a Palavra, mas logo permite que o diabo leve a semente embora.
Meus amados, J.C.Ryle disse que podemos escutar um sermão com corações endurecidos, como chão batido “à beira do caminho”, sem preocupação, sem cuidado, sem refletir sobre o estado de nossa própria vida.
A mensagem sublime do evangelho pode ser exposta diante de nós, e podemos ouvir dos sofrimentos que Cristo passou em nosso favor com total indiferença. Como um assunto em que não temos nenhum interesse.
Tão rápido as palavras chegam aos nossos ouvidos, satanás pode arrancá-las de nós, e então, regressarmos aos nossos lares como se nem estivéssemos ouvido algum sermão.
Infelizmente existem muitos ouvintes desse tipo! Deles pode-se dizer, tal como foi dito acerca dos ídolos: “Têm olhos e não veem; têm ouvidos e não ouvem” (Sl 135. 16,17). A verdade parece não exercer efeito sobre o coração deles.
Mas como esse coração tornou-se tão duro assim?
No texto paralelo relatado por Lucas, nos diz que a semente que caiu à beira do caminho foi pisada pelos homens (Lc 8.5) e comida pelas aves (Mt 13.4).
O caminho ao qual o texto se refere, normalmente era uma trilha que cortava um campo e dividia os canteiros e o trânsito de pessoa e animais, em que o solo ficava endurecido.
Uma estrada tem um chão duro e batido pelo tropel da multidão que vem, que vai e que passa. Nessa corrida constante daqueles que vêm e que vão, a semente não encontra guarida. Assim, são os corações endurecidos, insensíveis, impenetráveis. Eles não são receptivos à Palavra de Deus.
Os corações ficam endurecidos porque se tornam passarela da humanidade, estrada congestionada onde as multidões entram, saem e passam. Desses corações o diabo arrebata a semente e neles a verdade não frutifica.
Tudo o que entra pelos ouvidos e pelos olhos acaba dentro do coração, de modo que devemos ter cuidado com o que deixamos passar pelo caminho de nosso coração.
Antonio Vieira disse que a semente que o diabo tem pressa em comer é aquela que os homens pisam. Eles a pisam porque têm medo de receber essa semente. Têm medo de serem transformados por ela. Há ouvintes que rejeitam a mensagem e escarnecem do mensageiro. Esses são corações duros como o chão batido!
2. O coração superficial a Palavra de Deus –
Em várias regiões da terra santa, é possível encontrar um substrato de calcário coberto com uma camada fina de terra. O broto que cresce neste solo, não possuem raízes profundas, e, por isso, as diferentes temperaturas, a força do vento, o calor escaldante do sol contribui para planta murchar.
O sol representa as dificuldades pelas quais todos os que se dizem cristãos devem passar, a fim de provar sua fé. O sol é bom para as plantas quando estas têm raízes profundas. As adversidades da vida aprofundam as raízes do verdadeiro cristão, mas acaba por expor a superficialidade do falso cristão.
A semente que caiu no meio das pedras descreve um coração raso e superficial. É o ouvinte que se comove com facilidade e aceita a mensagem prontamente, mas seu interesse vai morrendo e não há continuidade (Ver João 8.31, 32). A semente chega a brotar, mas não tem umidade suficiente para crescer e frutificar. Não tem espaço para a planta criar raízes e se alimentar.
Há muitos corações que demonstram entusiasmo com a verdade e por um tempo parecem ser pessoas animadas e até efusivas com a fé cristã; mas logo que chegam as provas, e as tribulações aparecem, essas pessoas se escandalizam, tropeçam, caem e secam. O coração superficial não frutifica.
São pessoas que demonstram apenas uma fé emocional e um entusiasmo passageiro. Seguem a Jesus enquanto tudo está bem. Mas quando o clarim da batalha é entoado, quando as lutas surgem no cenário de sua vida, logo desanimam e retrocedem.
Meus amados a mera apreciação de um sermão não é sinal da presença da graça divina em nossa vida. Milhares de pessoas em nossas igrejas são como os judeus dos dias de Ezequiel: “Eis que tu és para eles como quem canta canções de amor, que tem voz suave e tange bem; porque ouvem as tuas palavras, mas não as põem por obra” (Ez 33.32).
3. O coração afogado pelos cuidados da vida –
Aqui encontramos solo suficiente para as raízes se aprofundarem, mas não há espaço para a planta desenvolver-se e dar frutos. Fica sufocada, e os frutos não amadurecem. A semente que caiu no meio do espinheiro nasce, mas não cresce nem frutifica, pois os espinhos crescem juntos e sufocam a planta.
Esse solo representa um coração povoado por muitos interesses e cuidados. Os “cuidados, riquezas e deleites da vida” são como espinhos que impedem o solo de manter-se produtivo. Jesus nos diz que os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas concorrem e disputam o mesmo espaço nesse coração que as coisas de Deus. Esse é um coração dividido e distraído com muitas coisas.
J. C. Ryle, diz que podemos ouvir um sermão aprovando cada palavra, e, no entanto, não tirar dele qualquer beneficio para nossa vida, em função da influência exercida pelo mundo sobre nós.
Nosso coração, tal como o solo recoberto de espinhos, pode se deixar afogar pelos cuidados, prazeres e propósitos desta vida. Permitindo que outras coisas venham ocupar o primeiro lugar em nossos afetos, e assim, sem o percebermos, tomar conta de todo nosso coração.
Tratam-se daquelas pessoas que querem servir a Deus, mas ao mesmo tempo estão apegadas ao mundo, são amigas do mundo e conforma-se com as coisas do mundo. Elas tentam servir a Deus e às riquezas e acabam murchando e perecendo.
Elas conhecem bem a verdade. Desejam fazer a vontade de Deus. Porém, não conseguem desistir de tudo que a vida pode oferecer por amor a Cristo. Elas não tomam a decisão de “buscar em primeiro lugar o reino de Deus”, e, por isso mesmo, acabam morrendo.
4. O coração que é boa terra, que frutifica –
A semente que caiu no solo fértil nasceu, cresceu, floresceu e frutificou a trinta, sessenta e cento por um. O solo estava preparado e nele não havia concorrentes. A semente encontrou acolhida e espaço para crescer e frutificar.
Diz a Palavra que mesmo em solos férteis a produção pode variar. Nem todos produzem a mesma quantidade de frutos (Mt 13.8), mas todo cristão verdadeiro produz algum tipo de fruto como prova de sua vida espiritual.
Uns produzem a trinta, outros a sessenta e outros a cem por um. Devemos ter um coração receptivo à Palavra. Não fomos salvos para sermos um campo estéril. Nós somos a lavoura de Deus. E Deus espera de nós frutos. Ele não se contenta com folhas. Ele não quer apenas propaganda de frutos, ele quer frutos, muitos frutos.
Portanto, deixemo-nos ensinar, alicerçados sobre esta parábola, que só há uma evidência de que estamos ouvindo corretamente a Palavra de Deus. A evidência é produzir frutos.
Alguns desses frutos consistem em arrependimento pelos seus pecados, fé no Senhor Jesus em todos os momentos da vida, dedicação à oração, humildade, amor cristão, mente e coração transformado (Gl 5.22, 23), ganhar pessoas para Cristo (Rm 1.13), contribuir financeiramente para a obra de Deus (Rm 15. 25-28), realizar boas obras (Cl 1.10), ter uma vida consagrada a Deus. Estas são as provas satisfatórias de que a semente da Palavra de Deus está realizando o trabalho que lhe é próprio em nosso coração.
Sem tais provas, a nossa religião é vã, por melhor que seja a nossa profissão de fé e disposição de mente, e não será melhor do que o bronze que soa ou o címbalo que retine. O próprio mestre disse: “Eu vos designei para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça” (Jo 15.16).
Não há outra porção nesta parábola que seja tão importante quanto esta. Jamais nos deveríamos contentar com uma ortodoxia infrutífera, ou a simples e fria manutenção de corretos pontos de vista teológicos.
Não podemos nos satisfazer somente com um conhecimento claro, com sentimentos calorosos e uma declarada profissão de fé. Devemos cuidar para que o evangelho que professamos, seja boa nova de Deus para nós todos os dias, que produza frutos em nossos corações e em nossas vidas. Nisto é que consiste o verdadeiro cristianismo.
As palavras do apóstolo Tiago deveriam soar frequentemente em nossos ouvidos: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra, e não somente ouvintes, enganando-se a vós mesmos” (Tg 1.22).
Que tipo de solo tem sido o seu coração? Há alguma coisa atrapalhando sua vida frutificar para Deus? Com que atitude você está ouvindo a Palavra de Deus domingo após domingo?
Meus amados não se enganem. Para chegar ao céu, é preciso algo mais do que ir à igreja regularmente aos domingos, frequentar as reuniões de oração no meio da semana, cantar no grupo de louvor, ser professor ou frequentador a Escola Dominical. A Palavra de Deus precisa ser acolhida em nosso coração e tornar-se a única regra de fé e conduta de nossas vidas. Ele deve produzir uma influência pratica sobre o nosso caráter, que se torne aparente no nosso comportamento exterior. Se não estivermos sucedendo assim, a pregação da Palavra servirá tão somente para aumentar ainda mais o nosso juízo diante de Deus.
Que Deus nos dê um coração aberto, receptivo, preparado para a boa semente e que nossa vida seja um canteiro fértil a produzir muitos frutos para a glória de Deus.

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